Diante daquele alçapão não vejo outro caminho além de descer, o cheiro é um misto de mofo e fumaça.
A passagem é estreita com uma escada velha de ferro, no entanto não consigo enxergar nada além de escuridão, ligo minha lanterna tentando ver o quão fundo é, porém nem mesmo a luz chega ao fundo.

Sem outra opção me viro e desço os primeiros degraus, ouço a voz de Milles dizendo que sempre confiou no meu trabalho por eu sempre assumir as consequências para ir até o fim, mesmo sabendo que posso ser devorado por minha própria agonia.
Eu paro imediatamente já com metade do corpo dentro da passagem refletindo sobre essa frase, logo em seguida ouço ele dizer que sempre confiou em meu trabalho pois eu não sou controlável, pois meu desgosto pela vida de merda que vivo é meu combustível.
Desço mais um degrau e ele diz que enfim estou fazendo a coisa certa, assim como os filhos obedecem ao país servindo e morrendo em seu nome.
Com o corpo quase completamente dentro daquele buraco sem fundo ouço sua voz me dizer calmamente para que eu continue minha missão… mas o Milles que eu conheço nunca esboçava felicidade a não ser quando estava bêbado e ficava se vangloriando com a boca mole os incontáveis problemas para chegar onde chegou…
Não tenho controle sobre meu corpo, estou descendo mais um degrau mas não sinto que estou fazendo o certo…
Sinto como se a voz de Milles não estivesse só na minha mente. Sinto como se me empurra-se para baixo…
Estou quase coberto pela escuridão quando ouço uma voz calma e doce dizer “Jimmy”, meu corpo se paralisa por completo, Milles diz que eu devo continuar mas eu não consigo.
Essa voz… eu reconheço mas não me lembro… não consigo me lembrar mas sinto que deveria, o que está acontecendo, quem está me chamando, as vozes estão baixas mal consigo ouvi-las agora.
Estou enlouquecendo, isso está acontecendo? Ouço a voz feminina chamar novamente e como se fosse um hábito pergunto o que está acontecendo, a mulher da uma risada tímida e diz que eu continuo sendo distraído.
Eu estou completamente paralisado, meu corpo está todo arrepiado e minhas mãos trêmulas, a voz feminina diz que se lembra quando fomos ao mercado e eu me distrai olhando para um senhor com uma bicicleta do outro lado da rua, ela entrou no mercado e eu segui a calçada olhando o homem com cabelos grisalhos que parecia não ter pressa nenhuma, ela correu atrás de mim chegando antes que atravessasse a rua movimentada de carros e segurou a minha mão…

Eu tinha oito anos quando isso aconteceu, sinto uma mão quente sobre a minha, Milles começa a gritar tão alto que minha cabeça começa a girar, a voz não parece mais a de Milles.
Mas aquela doce mulher diz bem perto do meu ouvido para que me acalmasse, sinto que meus batimentos cardíacos que estavam em um ritmo muito acelerado diminuem, e ela diz que tenho que terminar de me arrumar pois não podemos nos atrasar, seria rude nos atrasar para um dia tão especial.
Eu sei quem é, eu me lembro dela, seu nome Charlote Adrian Carver e ela é minha mãe. Essas memórias eu não consigo me lembrar direito estão completamente bagunçada e sem sentido, há lacunas que não consigo lembrar o que houve.
-Mãe onde você está? Estou ficando louco? Ouço um sussurro em meu ouvido dizendo “acorde Jimmy é só um pesadelo”.
Acordo assustado, não sei onde estou, o que houve ou quando eu desmaiei. Bruce esta abaixado próximo de mim me observando pálido, diz que já estava quase chamando a emergência.
Olho em volta estou dentro da cena de crime no final do corredor, não há passagem na parede, não há escotilha, nada disso foi real? Estou realmente ficando louco?
Bruce diz que me seguiu logo após eu sair da delegacia, mas quando entrou aqui eu estava me debatendo no chão gritando coisas sem sentido do tipo “Nos deixe em paz”.
Como eu não percebi que ele estava me seguindo e essas coisas que aconteceram pareciam tão reais? Assas memórias de minha mãe existem, mas não consigo me lembrar…
Cheguei à conclusão que eu preciso de ajuda, não posso resolver tudo sozinho. Milles estava certo… eu não estou buscando respostas, estou me matando de trabalhar para fugir delas.
Bruce me ajuda a levantar e diz que Waverly Hills é um lar de idosos que necessitam de cuidados especiais, lhe pergunto o que um lar de idosos teria a ver com isso tudo e ele me responde que o que é hoje nada mas antes era um manicômio e nós dois sabemos que quem tirou a vida de Milles era um louco.
Enquanto caminhamos para fora, percebo que não há mais pistas nesse lugar. Tudo o que houve antes não para de martelar em minha cabeça.
Bruce diz que telefonou para o Waverly e conseguiu falar com o doutor, ele iria procurar em seus registros tudo sobre o que achamos.
Enquanto isso, Bruce ascende um charuto e diz que eu devia descansar e fazer uma visita a conselheira do departamento e completa dizendo que faz isso uma vez ao mês.
Peço que Bruce movimente a polícia para encontrar o açougueiro maluco e digo que tenho que tirar algumas dúvidas com um velho amigo. Entro no carro e confiro se todos os papéis estão comigo.
Tudo está aqui. Está na hora de descobrir se esses símbolos que a jovem desenhou são loucura ou se o louco sou eu. Robert J Flannagan, espero que seus velhos hábitos não tenham mudado, pois preciso que você esteja cem por cento acordado. Preciso de respostas o mais rápido possível.
Ligo o carro e antes de acelerar, lembro-me do quarto do convento. Se eu tirar aquele Coelho maluco de sua toca posso levá-lo até lá. Flannagan vai comigo por bem ou por mal.